sexta-feira, 20 de maio de 2011

Bullying? Presente!



Ataque psicológico, físico e social. Como você se sente quando é intimidado ou humilhado?

Presente nas sociedades ao redor do mundo contemporâneo, este problema é conhecido como bullying (bully = “valentão” em inglês). O termo abrange todas as formas de atitudes agressivas, físicas ou verbais - intencionais e repetitivas - que ocorrem sem motivos evidentes. Costumeiramente, são exercidas por um ou mais indivíduos. O objetivo dos agressores é intimidar a vítima sem que ela tenha a capacidade de defesa. Relação desigual de forças e poder.

Abalo emocional, dor, aflição e angústia a adultos e crianças. Desejo de dominar ou atacar pessoas vistas como mais sensíveis ou retraídas, visões preconceituosas sobre indivíduos considerados diferentes da maioria, excluir do convívio social os que se destacam intelectualmente. Muitos são os motivos para que a prática do bullying ocorra. O problema pode acontecer em qualquer ambiente onde há interação entre pessoas: escolas, universidades, na própria família, no trabalho, na vizinhança, entre outros.

O bullying começou a ser estudado na região da Escandinávia (norte europeu) nos anos 70, pelo pesquisador sueco Dan Olweus, professor da Universidade de Bergen, na Noruega. Ele passou a analisar o tema porque percebeu haver um alto índice de relação entre suicídios e vitimização de maus tratos no ambiente escolar. No Brasil, as pesquisas começaram em meados do ano 2000.

Recentemente, o portal Brasil Escola realizou um estudo sobre o tema com alunos de instituições públicas e particulares. Os pesquisadores revelaram que as humilhações típicas do bullying são mais comuns entre os estudantes da 5ª e 6ª séries. O destaque negativo da pesquisa ficou por conta de Brasília, Belo Horizonte e Curitiba. O trio aparece à frente no ranking de maior incidência dessa prática no País.

De acordo com especialistas, o problema se divide em duas denominações: o bullying direto (forma comum entre os agressores masculinos), e o indireto (constante entre mulheres e crianças, tem como característica o isolamento social). Geralmente, em ambos os contextos, as vítimas temem o agressor em função das ameaças ou mesmo a concretização da violência. Enquanto isso, as testemunhas se calam. O silêncio surge como propósito de não ser o próximo da lista.

Atenção na escola e no emprego

O número de vítimas aumenta a cada dia. Um dos casos mais emblemáticos fora revelado há pouco tempo. O presidente dos EUA, Barack Obama, durante um evento sobre a prevenção do bullying, na casa Branca, afirmou ter sido vítima deste problema quando era estudante. Ele ressaltou a necessidade de combater o problema, que, segundo o governo norte-americano, atinge 13 milhões de crianças a cada ano no país.

Não podemos deixar de citar a tragédia ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo (RJ), no início de abril, que culminou com a morte de 12 crianças (até o fechamento desta edição) e alguns feridos. Depoimentos colhidos na investigação pela polícia fluminense indicaram que o atirador Wellington Menezes teria sido vítima desta prática durante o período escolar. "Desde pequeno ele tinha distúrbio mental e sofria isso que chamam de bullying", diz A., seu irmão adotivo de 44 anos.

Os agressores não fazem distinção de camadas sociais e estão presentes em escolas públicas e particulares em todo o mundo. No Brasil, 21% dos casos registrados ocorrem dentro da sala de aula. Esses dados foram obtidos na pesquisa “O Bullying Escolar no Brasil”, organizada pela Plan Internacional - ONG voltada para os direitos da infância -, que ouviu mais de cinco mil alunos, entre 5ª e 9ª séries, além de professores, gestores de ensino e familiares de estudantes.

No Sudeste, 47% dos estudantes declararam ter vivenciado situações assim. No Norte, este número cai para 23%. Os pesquisadores identificaram que o problema é mais frequente no Ensino Fundamental, a partir da 5ª série. Os meninos costumam apelar com agressões físicas, enquanto as garotas optam pelos atos verbais ofensivos.

Pioneira, a pesquisa ainda aponta que tanto a vítima quanto o agressor tendem a baixar seus respectivos rendimentos escolares. O primeiro passa a maior parte do tempo angustiado, enquanto o segundo perde tempo e se distrai mais. As instituições de ensino, geralmente, não admitem a ocorrência do problema entre seus alunos, desconhecem ou se negam a enfrentá-lo.

No entanto, os desprazeres sofridos pelas vítimas não se restringem apenas às escolas ou aos mais jovens. Eles também podem ser encontrados no ambiente de trabalho. A opinião recorrente entre os especialistas é que esse comportamento seja mais comum entre profissionais que ocupem cargos de chefia. Todavia, também pode ser diagnosticado em um colega da mesma hierarquia. Mas atente-se: é preciso saber diferenciar essa situação de um conflito normal de trabalho.

Infância: Presente e futuro comprometidos

Segundo a psicóloga Maria Maldonado, membro da American Family Therapy Academy, “o bullying sempre aconteceu em todas as escolas, mas por muito tempo a sociedade o considerou ‘brincadeira de criança’ (inclusive os apelidos) e não deu maior importância ao tema”. Por sua vez, as testemunhas, na grande maioria, convivem com a violência absolutamente caladas.

Além disso, os jovens que passam por estas situações podem se tornar adultos com baixa autoestima, negativos, com problemas de relacionamento ou até adquirir comportamento agressivo. Quando o caso é de situação extrema, a vítima pode tentar ou cometer suicídio. A intimidade e o diálogo podem contribuir neste processo. Pais atentos podem identificar o problema.

“Devemos estar atentos a cada indivíduo como um ser único. É importante valorizar o diálogo para ser criado um espaço de confiança entre o profissional e o paciente para, posteriormente, encontrar uma possível saída que amenize o sofrimento. O psicólogo ajuda os pacientes a retomarem as habilidades que estão ocultas devido ao trauma”, analisa a psicóloga Andreia Menezes.

Sinal de alerta aos pais

Cada qual tem a sua particularidade e absorve o bullying de uma maneira. Geralmente, as vítimas apresentam algumas características em comum:

- Não querer ir às aulas;
- Dor de cabeça, de estômago, suor frio;
- Baixa concentração;
- Queda do rendimento escolar;
- Tensão, preocupação e cansaço;
- Frustração e inquietude física.

Vítima e autor: é preciso escutá-los

Os pais têm um papel muito importante na formação dos filhos. E devem criar desde cedo o hábito do diálogo sobre o cotidiano e estabelecer relação de confiança. “No decorrer deste trajeto pode acontecer algo inesperado e devemos saber lidar com a situação adversa. Incentive, ouça e acredite no que a criança relata. Depois, procure a ajuda de um profissional”, acrescenta Andreia. Há um consenso de que os pais nunca devem ignorar ou minimizar o problema da criança, tampouco estimular a agressão ou revide.

Por outro lado, o autor das agressões costuma ser uma pessoa com pouca empatia e pertencente a uma família desestruturada. Os pais que passam por esta situação devem mostrar ao filho que se divertir à custa do sofrimento dos outros é inaceitável. É de grande valia destacar que ele pode desenvolver outras maneiras de se sobressair utilizando habilidades pessoais.



Cyberbullying

Infelizmente, os meios tecnológicos (que seriam teoricamente para melhorar e facilitar nossas vidas) são utilizados para a prática do que ficou conhecido como “cyberbullying”. Nele, as variadas ferramentas da web são usadas para caluniar e perseguir pessoas perante a “sociedade virtual”. O Facebook, por exemplo, anunciou recentemente a criação de ferramentas para combater a atividade dos agressores.

Líderes políticos europeus estão de olho neste assunto e nos dão um bom exemplo. O projeto de internet segura, organizado pela União Europeia, investirá até 2013 quase 55 milhões de euros (R$ 127 milhões) no combate a conteúdos ilegais e materiais ofensivos. No Brasil, os projetos ainda engatinham...

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou no final do ano passado uma cartilha para ajudar pais e educadores brasileiros a prevenir o bullying nas suas comunidades e escolas. O material está disponível gratuitamente na internet. Vale a pena conferir.

Contudo, o ideal é toda a sociedade trabalhar, principalmente junto aos mais jovens, o conceito de que agressão não é diversão. Mudar certas condutas é imprescindível.

Tadeu Inácio
*Texto publicado na edição 38 da Revista Mais Destaque, seção Comportamento