terça-feira, 16 de agosto de 2011

Síndrome do Pânico


Procedimentos defensivos evitam novas crises ao mesmo passo que produzem diferentes tipos de fobia

A palavra pânico é proveniente do grego "panikon" e significa medo, susto ou pavor repetitivo. Nada mais justo para descrever uma síndrome que, ao passar dos anos, vem se tornando cada vez mais frequente entre a sociedade do mundo contemporâneo: a Síndrome do Pânico. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o problema atinge aproximadamente 4% da população mundial. Trata-se de uma situação que está próximo do limite, sempre relatada de forma dramática pelas pessoas que passaram ou que ainda convivem com isso.

Dificuldade em dominar o ambiente em que se vive, fobia, suor frio, tontura, taquicardia ou falta de ar são alguns dos variados sintomas envolvidos nesses casos. Segundo especialistas, as crises duram tempos distintos – podem variar de cinco minutos até meia hora - e são três vezes mais comuns em mulheres. Pode ocorrer no meio de uma multidão, no engarrafamento, metrô, elevador, shopping, supermercado ou na fila do banco. Não há horário marcado para esse terrível encontro.

Segundo depoimentos de algumas pessoas acometidas pela síndrome, o problema ocorre devido a um processo de associação. A partir da primeira crise, qualquer estímulo interno (dor, tonteira, alterações nos batimentos cardíacos) ou externo (lugar ou cheiro) pode remeter à situações anteriores e funcionarem como o elemento necessário para uma nova crise. Nesse sentido, fazendo parte de um procedimento defensivo para evitar que novas crises ocorram, vão se produzindo diferentes tipos de fobia.

O problema está ligado à ansiedade generalizada. Um ataque de pânico começa a ganhar força horas antes do próprio surto, e se potencializam por meio da ansiedade, que se acumula ao longo das horas e dos dias. Por sua vez, essa emoção humana é definida como um estado de apreensão ou medo provocado pela antecipação de iminentes ameaças, sejam elas reais ou imaginárias. A maioria das pessoas que nunca passou por isso não consegue compreender a natureza assustadora dessa experiência.

Aumento da pressão arterial e outros sintomas

A ciência afirma que a primeira manifestação pode acontecer por algum motivo traumático ou estressante, que desestabiliza o indivíduo (mas isso não é regra, segundo algumas fontes). O humor, nesse período, se assemelha a uma montanha-russa, onde ocorrem picos de ansiedade, pressão e respiração acelerada. Em seguida, um estado de exaustão e sonolência, como se fosse o fim de uma guerra, passa a dominar o indivíduo.

Entre os variados sintomas da síndrome, estão: tonturas extremas, visão embaçada, formigamento espalhado pelo corpo, falta de ar, arrepios, preocupações obsessivas, pensamentos indesejados, aumento repentino nos batimentos cardíaco, respiração irregular, nervosismo extremo, desconforto em lugares fechados etc.

Em recente depoimento em um programa de televisão, o cardiologista Roberto Kalil explicou que “essa mudança brusca e completa do metabolismo, em que a vítima demonstra uma reação desproporcional, como se estivesse diante de uma ameaça real, causa um aumento tão grande da pressão arterial que a pessoa acha que está tendo um infarto e vai morrer”. Ainda segundo o especialista, o risco cardíaco é mínimo se o paciente for diagnosticado corretamente.

O convívio social e a realização de tarefas (até então normais) por parte dessas pessoas passam a ser restritos. Tamanha incapacidade é percebida pelas pessoas mais próximas. Essas restrições vão se impondo sucessivamente a tal ponto que o indivíduo pode optar a viver enclausurado em sua própria casa, ocasionando a agorafobia (medo apresentado diante de uma multidão e em lugares abertos), e viver dependente de terceiros. Alguns deles, sem informação ou tratamento devido, buscam refúgio no álcool e nas drogas.

É sempre importante lembrar e alertar que falamos de uma doença do foro psicológico. Sendo assim, algumas pessoas podem interpretar erroneamente os sintomas e, consequentemente, agravar a situação. Entrar em colapso porque você pensa que tem a síndrome do pânico acontece, e isso vai piorar a sua situação se encarar a doença como incurável. Ter um ataque de pânico ou uma crise específica não caracteriza a síndrome. Antes de procurar um médico específico (cardiologista ou psiquiatra), observe seus sintomas atenciosamente.

As crises também podem incluir fraqueza, desorientação e lesão de memória em longo prazo. É o que afirma o psiquiatra Figueira de Mello. Além disso, elas estão associadas a depressão e transtorno obsessivo-compulsivo, o conhecido “TOC”, que ocorrem paralelamente, sem relação de causa e efeito. “Sentir medo é necessário, pois se trata de uma proteção da vida que contribui para a evolução da espécie. Mas, quando se torna doença, tem controle – apesar de a cura total ser mais difícil de obter”, indica Mello.

Tratamento

O desafio deste tratamento não é uma tarefa impossível. Exercícios de respiração, terapias alternativas e remédios constituem um importante time para vencer o medo. Segundo especialistas, a cura não se dá de forma espontânea, o que significa que a sintomatologia (conjunto dos sintomas de determinada doença) não desaparece a menos que a pessoa receba tratamento específico e de qualidade.

Depois de muitos estudos, o tratamento que vem obtendo os melhores resultados tem se baseado em associar dois importantes itens: psicoterapia e medicação. Enquanto o primeiro auxilia a compreensão dos motivos do pânico e estimula as mudanças de atitudes necessárias para eliminá-lo, os medicamentos, em casos mais intensos, garantem o equilíbrio necessário ao paciente.

Geralmente, o processo da psicoterapia dura alguns meses. Se bem conduzido, em um primeiro momento, evita consideravelmente as crises ou pelo menos reduz a intensidade e frequência delas. Assim, a pessoa passa a aprender mais sobre os seus sintomas, sobre si e, principalmente, a agir em conformidade com essas (novas) descobertas e percepções. O paciente se tornará o próprio agente da mudança de seu estado.

Se você estiver passando por um ataque de pânico ou ver alguém em um, procure se acalmar e tranquilizar a pessoa, além de ter consciência de que a situação tem prazo de validade.

O governo federal oferece alguns pontos de atendimento. Entre eles, estão o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e o Centro de Atenção ao Psicossocial (CAPS). Informe-se em sua região e verifique a disponibilidade.

Pesquise:
portal.saude.gov.br/portal/saude/
dab.saude.gov.br


“80% das causas diagnosticadas são atribuídas ao estresse”
(Andreia Tonão, psicóloga)


1 - Como identificar o problema?

Primeiramente, devemos identificá-lo com a ajuda de um psiquiatra e, posteriormente, um psicólogo, que irá analisar os sinais e sintomas. Somente assim, teremos um diagnóstico correto.

2 – Quais as principais características apresentadas?

As principais características são taquicardia, sudorese, tremores, dispnéia,náuseas,formigamento em membros ou nos lábios. Nas crises intensas, os pacientes podem experimentar diversos graus de despersonalização, como sensação da cabeça ficar leve, de o corpo ficar estranho, perda do controle, autoestranhamento e desrealização (sensação de que o ambiente está estranho, não familiar).

3 – Quais os tratamentos mais indicados nesse caso?

O tratamento deve iniciar com ajuda de um psiquiatra, que utiliza alguns medicamentos, geralmente, antidepressivos ou ansiolíticos. Eles são acompanhados de psicoterapia para aliviar as sequelas no qual a medicação não atua.

4 – De que forma as pessoas mais próximas devem agir visando uma efetiva melhora?

O apoio e a compreensão da família e dos amigos são fundamentais em todos esses casos. É importante também que parte deles tenha o conhecimento mais aprofundado da doença, pois, assim, conseguirão auxiliar para que o tratamento se processe de forma mais rápida e eficaz.

5 – Existe cura?

A síndrome do pânico tem cura, sim. O ideal é fazer uso de itens importantes: os medicamentos, a psicoterapia e, o principal, a vontade de se curar.

6 – É possível evitá-la?

Não há dúvidas de que seja possível evitar a síndrome. Até porque 80% das causas diagnosticadas são atribuídas ao estresse. Seguindo algumas recomendações, diminuiremos esse risco. Entre elas, cito dormir bem, fazer atividades físicas, relaxar, respiração completa e profunda, fazer as refeições calmamente, evitar café, comer frutas e ser menos rigoroso consigo mesmo. Assim, estaremos mais próximos de uma vida mais saudável e feliz.

7 – Como a Psicologia colabora nesses casos?

Ela trabalha a ansiedade, as fobias e a mudança de atitude do paciente perante a doença. Volto a repetir: o entrosamento e a vontade de se curar são fundamentais para o sucesso do tratamento.

Tadeu Inácio
Matéria divulgada na edição 40 da Revista Mais Destaque