segunda-feira, 12 de março de 2012

Acima da Média



Crianças superdotadas exigem tratamento específico tanto dos pais como dos educadores. Atenção necessária para não desperdiçar tamanha capacidade

Níveis de inteligência acima do normal, facilidade extrema no aprendizado - seja em uma ou mais áreas ou disciplinas, no caso dos alunos -, criatividade e imaginação fértil. Bem, muitos são os predicados que podemos atribuir aos superdotados, um grupo de pessoas mais representativo do que possamos imaginar. Que uma importante fase da vida (talvez a mais importante) ocorre no período escolar não é surpresa pra ninguém. E com essa parcela da população não é diferente. Sendo assim, uma pergunta vem à tona: como tratar esses pequenos gênios dentro da sala de aula?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 5% e 8% da população mundial é superdotada. Especialistas afirmam que, quando crianças, os superdotados costumam apresentar boa memória, vocabulário rebuscado, curiosidade fora do comum, além de uma capacidade ímpar para aprender rapidamente. Esse conjunto de características é classificado como "altas habilidades". Deste modo, essas pessoas precisam de estímulos para não deixar escapar todo o potencial e também de cuidados para que não desenvolvam problemas de relacionamento. Ser diferente da maioria pode ser um entrave no aspecto social.

Segundo estudo realizado recentemente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), atualmente, existem aproximadamente nove mil alunos matriculados em classes comuns do Ensino Regular ou da Educação de Jovens e Adultos qualificados como portadores de altas habilidades/superdotação no Brasil. Desses, mais da metade estão localizados na região Sudeste. A pesquisa ainda revela que pouco mais de 600 alunos estão matriculados em escolas especiais. O levantamento também traz números referentes a outros tipos de necessidade educacional especial.


Pais e avaliações
Orgulho à flor da pele. Alguns pais acham que os filhos são geniais, quando, na verdade, são apenas precoces ou foram muito estimulados. Para tirar essa dúvida, existem instituições que desenvolveram técnicas para avaliar as crianças. É o que ocorre na Associação Paulista para Altas Habilidades/Superdotação. “Agente aplica avaliações pedagógicas, onde testamos oito áreas do conhecimento, com oito profissionais específicos, um de cada área, para detectar qual o tipo de inteligência que a pessoa apresenta”, diz Ada Cristina Garcia, presidente da instituição.

Por sua vez, a psicóloga e consultora do Programa Objetivo de Incentivo ao Talento, Christina Cupertino, acredita que “toda vez que pensamos: ‘fulano é bom no que faz’ ou ‘nossa ele se sobressai diante das pessoas da mesma idade’ você pode pensar que está identificando altas habilidades”. Porém, existe um grande empecilho nos lares.

“A sobrecarga é o principal problema que encontramos com as famílias. Os pais podem fazer com que a criança recue nessas habilidades para não serem tão exigidas”, complementa Christina.

Ambiente escolar
“O estudante com altas habilidades costuma ter um interesse tão grande por uma das disciplinas que acaba negligenciando as demais. A facilidade de expressar-se, por exemplo, pode ser usada para desafiar o professor e os colegas”, resume a pedagoga e escritora alemã Charlotte Lessa, que também é fundadora e presidente do Instituto de Desenvolvimento Humano Kathia Lessa. Ela já teve oito obras publicadas pela Casa Publicadora Brasileira (CPB) na área infantojuvenil.

Mesmo os mais aplicados dificultam a aula ao monopolizar a atenção. Em alguns casos, eles não querem trabalhar em grupo por não entenderem o ritmo "mais lento" dos colegas. “A descoberta das altas habilidades é o primeiro passo para melhorar esses comportamentos. Primeiro, porque muda o olhar do professor. E também porque o próprio jovem passa a aceitar melhor as diferenças”, afirma Charlotte.

Há alguns anos, ela teve um aluno que a surpreendia com suas intervenções em sala. “Ele respondia as perguntas tão rapidamente que os mais lentos ficavam desconcertados. Tinha que pedir a ele que deixasse os outros alunos responderem. Isto o deixava frustrado, pois, como criança, queria mostrar o quanto sabia”, conta.

Qual deve ser a postura ideal do professor para lidar com esses alunos?
por Charlotte Lessa

a. Conhecer as habilidades predominantes da criança, levando em conta que ela não as têm em todas as áreas do conhecimento;
b. Observar como as habilidades do aluno estão sendo empregadas no contexto escolar;
c. Dedicar-se ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social do aluno, como faria com qualquer outro;
d. Elaborar um planejamento individualizado, cujo conteúdo seja desafiador e estimulador ao mesmo tempo;
e. Ao ser confrontado pelo aluno no que diz respeito ao conteúdo da matéria, manter a calma e não levar suas provocações para o lado pessoal;
f. Se possível, fazer um curso de especialização na área da superdotação.

A coordenadora pedagógica do Colégio Adventista de Bauru (Associação Paulista Oeste - APO), Jonice Martini, diz que esses alunos merecem um tratamento adequado. “Como educadores, devemos ter bastante sensibilidade para entender como esse aluno aprende e como fazer a devida integração desse aluno com os demais em sala de aula. Escola e professor devem ter um bom relacionamento com a família para que o trabalho ocorra em conjunto”, diz Jonice.

No entanto, não é comum que exista uma preparação especial aos professores. “Dificilmente há preparação para lidar com alunos superdotados. Nos cursos de graduação, esse assunto é pouco ou quase nada abordado. Dependemos da boa vontade do professor em procurar se capacitar”, afirma. Ela acredita que a “escola, através da direção e coordenação, deve dar um suporte para que os docentes recebam algum tipo de orientação sobre o assunto, contratando psicólogos ou pesquisadores que possam trazer informações que consigam atender esses alunos.”

Alunos com altas habilidades precisam de experiências de aprendizagem que estimulem seu potencial, e o professor é peça fundamental para fazer a diferença nessas vidas.

Tadeu Inácio
Texto publicado na seção Educação da edição 42 da revista Mais Destaque
@maisdestaque