segunda-feira, 26 de maio de 2014

Futebol experimentado

Coluna publicada no Espaço Aberto (página 4) do Lance! de domingo (25/5/14)



Quando nasce a paixão do torcedor pelo futebol? Difícil de responder. Geralmente, o pai - ou a figura paternalista, masculina do lar - dá o pontapé inicial, como aqueles que ocorrem em partidas amistosas ou em inaugurações de estádios (ou as atuais arenas multiuso, mais do que na moda atualmente). Para muitos, a vida do bebê começa após a disputa entre familiares pela decisão do clube do coração. Mas nada disso supera experiências e sensações que o esporte é capaz de oferecer.

De nada adianta o pai torcer para o B se o tio, que torce para o A, proporciona a primeira ida da criança ao estádio. Quem já sentiu esta emoção pela primeira vez não esquece jamais. Experiência própria. Sucessos e fracassos dentro de campo (como na vida, inevitáveis). A festa do primeiro gol presenciado, seguido do abraço de um estranho que vibra junto como se fosse da família, contrasta com o silêncio ensurdecedor do tento visitante e a saída da torcida mandante após o apito final. Coisas da bola.

A euforia incontida do gol do time do coração em cima do maior rival aos 48 minutos do tempo regulamentar ocorre na mesma intensidade com que aquela fatídica bola passa a “dois palmos” da muralha camisa 1 da sua paixão. Alegria ao entrar no colégio com a camisa do clube, que mal cabe debaixo do uniforme por tamanho orgulho, e a raiva ao ouvir o atendente da padaria começar a gozação antes de pedir o seu pão na chapa. Indícios de êxtase e depressão, lado a lado. Ingredientes de uma receita que é como sina na vida do clubista.



O fato é: não existe ex-torcedor. Existem, sim, aqueles que “esfriam” e deixam de acompanhar o time, que optam por qualquer programa social em vez de ficar em frente à TV roendo unhas. E toda essa falta de apelo pode ser compreendida com o que se é consumido no quesito informação, troca de ideias. Debater ou ler o que se pensa.

Ainda no ensino médio, me lembro de ficar ansioso para ver as capas dos impressos esportivos na banca de jornal que ficava no meio do trajeto entre minha casa e o colégio. Furo jornalístico, contratação? Adquirir revistas especiais, pôsteres de campeões e livros era questão de honra. Prestigiar debates também.
Hoje os tempos são outros. Há a falta da troca, da conversa pessoal. Fundamental para a sociedade, a internet colabora com isso. “Pra quê participar de uma atividade se posso tweetar com meu jornalista preferido ou ler algum post na fanpage dele?”, podem perguntar. Inocentes, não sabem de nada.



E um movimento vem ganhando força e espaço para contrariar essa crescente realidade: os “fut-encontros”. É cada vez mais comum - e a Copa do Mundo no Brasil colabora muito com isso - plataformas públicas e privadas, inclusive educacionais, promoverem projetos que quebram o cenário padronizado das TVs e dos rádios para propiciar o bate-papo entre os apaixonados pelo futebol - alunos, professores, profissionais ou não. Há um consenso de que oportunidades como essas agregam e muito. Faz pensar e amplia o poder da contextualização. O futebol merece.



Tadeu Inácio, jornalista do Fut-Encontro

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