quarta-feira, 5 de maio de 2010

Efeito Contrário


Quando exercícios físicos resultam em uma saúde (des)equilibrada

Praticar exercícios. Trabalhar a musculatura. Mexer o corpo. Levantar peso. Repetições. Suor e muitas calorias perdidas. A preocupação em cuidar da saúde pode resultar em algo contraditório. Por muitas vezes, o limite do próprio corpo não é respeitado e, em vez de melhorias, o que se obtém são danos à nossa saúde. A busca frenética por músculos torneados, curvas delineadas e perda de peso podem desencadear sérios e perigosos problemas ao bem-estar de qualquer pessoa.

Ao lidar com a compulsão por exercícios físicos, frequentemente em função da estética, é necessário ter a consciência do limite de todo o nosso organismo. Não é muito fácil encontrar consensos e discussões que dizem respeito a essas práticas. O fato é que, se bem trabalhada, a atividade física rende muitos benefícios à saúde humana. Entre elas estão o fortalecimento dos ossos e musculatura, a manutenção e renovação da energia, e a contribuição para o equilíbrio entre corpo e mente. Porém, tudo isso só é alcançado se todos exercícios forem realizados corretamente.

A atividade física é essencial para a manutenção de uma vida. No entanto, a dependência, o excesso e um mau acompanhamento podem atrapalhar a saúde de muitos postulantes a atleta. É o que afirma o professor de Educação Física e personal trainer, Nilton Campos. “As pessoas se confundem ao pensarem que apenas o treinamento trará os benefícios à saúde. Isso é alcançado por meio de uma junção de importantes fatores - descanso, boa alimentação e uma dieta regrada”, diz.

Excesso prejudicial

Para uma significante parcela de pessoas, uma desculpa definitiva e plausível seria necessária para fugir daquela academia do bairro. Pois bem, um estudo realizado recentemente pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) pode fazer com que esse grupo permaneça sentado no sofá. Pesquisadores demonstraram que algumas pessoas podem se tornar dependentes de exercícios físicos.

É o que ocorre com os viciados em drogas psicotrópicas - como álcool e cocaína, por exemplo. Ao se doparem, eles experimentam a sensação de bem-estar, pois o efeito estimula a liberação no sistema nervoso da dopamina, um neurotransmissor responsável pela percepção desses sentidos. Posteriormente, a privação da substância produz sintomas que levam a pessoa a reiniciar todo o processo, como um ciclo de dependência profunda.

Da mesma forma, os exercícios físicos podem resultar em algo semelhante. Sua prática acarreta a liberação de endorfina, um outro neurotransmissor com propriedades analgésicas e entorpecentes. É o que explica o coordenador do estudo, o professor de Educação Física Daniel Rosa, do departamento de psicobiologia da Unifesp. "É como se os exercícios físicos estimulassem a liberação de drogas fabricadas no próprio organismo", afirma.

A pesquisa ainda aponta que, em alguns casos, a ginástica funciona às pessoas como uma válvula de escape para a ansiedade e, nesses casos, o prazer obtido pode gerar uma dependência. Das pessoas que praticam exercícios físicos com frequência e regularidade, 50% podem desenvolver algum tipo de dependência.

Tadeu L. Inácio

4 comentários:

  1. Gostei da matéria Efeito Contrário.

    Interessante por estabelecer relação entre excesso de exercícios físicos e efeitos biológicos adversos como a dependência, que nesta matéria se revela a nível química. Quem diria que a boa academia, quando praticada de forma obsessiva, tornaria os centros corticais dependentes quimicamente da presença de endorfinas hipotalâmicas! Que surpresa! As endorfinas, então, dão aos centros bulbares do córtex cerebral a sensação de prazer e, a falta dela (leia-se falta de exercícios físicos), leva o indivíduo, já compulsivamente, a buscar na academia os efeitos estimulantes da secreção endorfinérgica.
    A pesquisa citada da UNIFESP, então, mostra a relação entre o excesso de exercícios físicos e a secreção de endorfinas pelo próprio corpo sugerindo uma relação de dependência, como supracitado.
    Entretanto, talvez o termo dependência possa veicular uma conotação negativa à secreção de endorfina. Não olvidemos, porém, que a endorfina apresenta efeitos fisiologicamente importantes como: estimulação do sistema imunológico (ajudando a prevenir infecções); inibição de radicais livres (vilões que prejudicam às células levando-as ao envelhecimento); vasoproteção; melhoramento do desempenho físico e mental, prevenindo inclusive a perda de memória; além, é claro, de ser uma substância analgésica prevenindo a dor na hora do exercício físico ("endo"= dentro, "morina"=analgésico).
    Vou ainda provocar os leitores desta crítica com um argumento puramente evolutivo, à moda darwiniana. Será que, por estimular os centros de prazer, o exercício físico não foi cunhado evolutivamente ao longo de milhões de anos como um indicativo, através de secreção química, de algo estritamente necessário ao corpo? Seria uma forma de o corpo dizer "continue a praticar exercícios, isso me faz bem"! Assim, aprendemos, de forma biológica, a realizar tarefas que beneficiem o corpo. A secreção de endorfina por estimular o prazer, pode assim, ser um indicativo químico, de que o exercício físico não só é benéfico como essencial, pois evolutivamente aprendemos a perceber tal necessidade por meio de sinalização química. Que loucura!
    Não obstante, uma nova pesquisa que mostre uma relação entre o excesso de exercícios físicos e o mau desempenho físico ou mental a longo prazo se faz necessária para que possamos concluir, de fato, que, tal excesso leva à uma dependência que por sua vez leva a efeitos indesejáveis maiores a longo prazo, uma vez que, a curto prazo, o que se tem, são maiores efeitos benéficos relevantes da secreção de endorfina do que efeitos maléficos, como a dependência.
    Se, o excesso de exercício físico é prejudicial ao desempenho do corpo a longo prazo, concluo aqui, deixando uma citação extremamente relevante a tal discussão e, no mais, também provocativa aos queridos amigos e leitores deste inestimável blog:
    Os beija-flores são aves que desempenham um exercício físico extremo ao bater suas asas durante os voos. Notem que, o excesso de exercício físico está presente nestas aves ao longo de suas vidas. Durante o mergulho no voo, a minúscula ave chega a incrível velocidade de 270 m/s e, de súbito, arremete para cima. Esta manobra a submete a nove vezes a aceleração da gravidade (g). Para se ter uma idéia, vale destacar que pilotos de aviões de caça em geral desmaiam a velocidades em torno de 7g. Os beija-flores, assim, superam o desempenho de pilotos de aviões de caça por seu bater de asas frenético, resultado de um exercício físico excessivo e, contudo, tal excesso não os prejudicam em suas tarefas rotineiras, pois são considerados os pássaros mais prudentes e mais eficazes na busca por néctar. Ao contrário, o excesso de exercícios físicos, neste caso, os torna mais adaptados ao ambiente em que vivem.

    Não sou, contudo, um apoiador de qualquer prática em excesso. Mas o que seria da circulação sanguínea se o coração parasse um único minuto?

    Beijos a todos,
    Ric

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  2. Que loucura de comentário.
    Pessoalmente acho esse Ric mto bonito e gostoso!

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  3. Falou "pouco", mas falou bonito...

    Alguém tem bagagem o suficiente para iniciar uma réplica, tréplica e, assim, sucessivamente?

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  4. Fala sozinho ae... me resuma isso, que se pah, eu leio....

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